*** Esse texto, publicado no UOL/Folha, é para homens que sabem o que é um gloss ***
[30/12/2003 - 07h42
Metrossexual, o novo "homem moderno", invade a cultura pop
LÚCIO RIBEIRO
colunista da Folha
E de uma costela gay nasceu o homem moderno. Entre outras coisas, 2003 será marcado pelo ano do aparecimento do termo "metrossexual", designação fashion-mercadológica para um homem das grandes cidades que gasta mais de 30% de seu salário com cosméticos e roupas, frequenta manicures, aprecia um bom vinho, adora um shopping, é (para resumir) mais que simpatizante da cultura gay. Mas não se engane: é um sujeito bem macho.
Desde meados deste ano o mercado publicitário americano está atrás do dinheiro deste ser vaidoso, geralmente bem colocado profissionalmente e que não vive sem sua marca predileta de hidratante para a pele. E atrás dos anunciantes está a cultura pop.
E mais do que um modismo passageiro, como era a aposta quando a palavra metrossexual se alastrou na mídia, a presença desse homem com "H" está viva nos EUA e bem visível no Brasil.
O canal pago Sony exibe por aqui o mais comentado seriado novo de 2003, "Queer Eye for the Straight Guy", que pode ser traduzido como "O Olhar Gay para o Cara Hétero". A série é uma espécie de "reality show" em que cinco gays especialistas em moda, decoração, cultura, comida e vinhos são acionados para transformar um sujeito heterossexual careta em um "novo homem". Mais ou menos como transformar um sapo em um príncipe.
"Queer Eye..." estreou em julho nos EUA e desde novembro passa na Sony brasileira, aos domingos, às 20h30. Na internet circula desde outubro, em programas de download, o divertidíssimo episódio 708 do desenho "South Park", em que toda a cidade, inclusive os levados meninos-personagens, viram metrossexuais.
O termo, que comprime as palavras heterossexual e metropolitano, ganhou editorial da revista mais masculina do Brasil, a "Playboy", que está atenta a esse cara que gosta de mulher e de Listerine. O metrossexual, mais do que uma presença editorial de evolutiva importância, pautou a última edição de outra revista de homens, a "Vip". Em uma das reportagens, inspirada no seriado, alguns gays foram convidados a transformar em modernos alguns homens-"homens", daqueles que adoram futebol, mas que nunca reparam nas unhas bem feitas e pintadas e no cabelo alinhadíssimo do inglês David Beckham.
A diretora de Redação da "Playboy", Cynthia de Almeida, diz que o metrossexual ainda é um sujeito com um comportamento distante do homem brasileiro. "Esse jovem urbano, obcecado pela aparência que consegue segurar a onda da virilidade é raro. O nosso macho médio, no entanto, está longe de ser um brucutu e está cada vez menos preconceituoso em relação a cuidar do corpo e a ficar bonito. Na célebre reportagem do 'New York Times' que botou em circulação o termo metrossexual, tem um texto cujo título eu adoro: 'Esfoliação não é o caminho para o coração de toda a mulher'..."
Se o homem metrossexual brasileiro ainda tem alguma dificuldade de encontrar seu creminho nas revistas brasileiras, americanos vaidosos como o astro galã Brad Pitt acham fácil o deles em páginas e páginas de publicações masculinas bem-sucedidas, consideradas hoje bíblias do metrossexualismo, como a "Details", a "GQ" e a "Vanity Fair".
"Revistas como a 'Details' e outras tiveram que se aproximar dos homens diferentemente nos últimos tempos. No meu caso, como editor da 'Details', tenho feito há três anos uma revista para o homem --não o hétero, não o gay, mas simplesmente para o homem. No começo os críticos de mídia falaram que a 'Details' era uma publicação gay. Agora, falam que minha revista está se enchendo de dinheiro porque conseguiu focar no 'homem contemporâneo', aquele que está interessado tanto no resultado de um jogo do New York Knicks quanto em exposições de arte", disse Dan Peres em chat do "Washington Post".
Mais do que guiado pelas revistas, o metrossexual já ganhou até seu manual em livro. Em outubro último foi lançado "The Metrosexual Guide to Style: A Handbook for the Modern Man", de Michael Flocker. "Nunca estale os dedos em um restaurante para chamar o garçom. Faça um delicado aceno", ensina o guia. ]
[30/12/2003 - 07h42
Metrossexual, o novo "homem moderno", invade a cultura pop
LÚCIO RIBEIRO
colunista da Folha
E de uma costela gay nasceu o homem moderno. Entre outras coisas, 2003 será marcado pelo ano do aparecimento do termo "metrossexual", designação fashion-mercadológica para um homem das grandes cidades que gasta mais de 30% de seu salário com cosméticos e roupas, frequenta manicures, aprecia um bom vinho, adora um shopping, é (para resumir) mais que simpatizante da cultura gay. Mas não se engane: é um sujeito bem macho.
Desde meados deste ano o mercado publicitário americano está atrás do dinheiro deste ser vaidoso, geralmente bem colocado profissionalmente e que não vive sem sua marca predileta de hidratante para a pele. E atrás dos anunciantes está a cultura pop.
E mais do que um modismo passageiro, como era a aposta quando a palavra metrossexual se alastrou na mídia, a presença desse homem com "H" está viva nos EUA e bem visível no Brasil.
O canal pago Sony exibe por aqui o mais comentado seriado novo de 2003, "Queer Eye for the Straight Guy", que pode ser traduzido como "O Olhar Gay para o Cara Hétero". A série é uma espécie de "reality show" em que cinco gays especialistas em moda, decoração, cultura, comida e vinhos são acionados para transformar um sujeito heterossexual careta em um "novo homem". Mais ou menos como transformar um sapo em um príncipe.
"Queer Eye..." estreou em julho nos EUA e desde novembro passa na Sony brasileira, aos domingos, às 20h30. Na internet circula desde outubro, em programas de download, o divertidíssimo episódio 708 do desenho "South Park", em que toda a cidade, inclusive os levados meninos-personagens, viram metrossexuais.
O termo, que comprime as palavras heterossexual e metropolitano, ganhou editorial da revista mais masculina do Brasil, a "Playboy", que está atenta a esse cara que gosta de mulher e de Listerine. O metrossexual, mais do que uma presença editorial de evolutiva importância, pautou a última edição de outra revista de homens, a "Vip". Em uma das reportagens, inspirada no seriado, alguns gays foram convidados a transformar em modernos alguns homens-"homens", daqueles que adoram futebol, mas que nunca reparam nas unhas bem feitas e pintadas e no cabelo alinhadíssimo do inglês David Beckham.
A diretora de Redação da "Playboy", Cynthia de Almeida, diz que o metrossexual ainda é um sujeito com um comportamento distante do homem brasileiro. "Esse jovem urbano, obcecado pela aparência que consegue segurar a onda da virilidade é raro. O nosso macho médio, no entanto, está longe de ser um brucutu e está cada vez menos preconceituoso em relação a cuidar do corpo e a ficar bonito. Na célebre reportagem do 'New York Times' que botou em circulação o termo metrossexual, tem um texto cujo título eu adoro: 'Esfoliação não é o caminho para o coração de toda a mulher'..."
Se o homem metrossexual brasileiro ainda tem alguma dificuldade de encontrar seu creminho nas revistas brasileiras, americanos vaidosos como o astro galã Brad Pitt acham fácil o deles em páginas e páginas de publicações masculinas bem-sucedidas, consideradas hoje bíblias do metrossexualismo, como a "Details", a "GQ" e a "Vanity Fair".
"Revistas como a 'Details' e outras tiveram que se aproximar dos homens diferentemente nos últimos tempos. No meu caso, como editor da 'Details', tenho feito há três anos uma revista para o homem --não o hétero, não o gay, mas simplesmente para o homem. No começo os críticos de mídia falaram que a 'Details' era uma publicação gay. Agora, falam que minha revista está se enchendo de dinheiro porque conseguiu focar no 'homem contemporâneo', aquele que está interessado tanto no resultado de um jogo do New York Knicks quanto em exposições de arte", disse Dan Peres em chat do "Washington Post".
Mais do que guiado pelas revistas, o metrossexual já ganhou até seu manual em livro. Em outubro último foi lançado "The Metrosexual Guide to Style: A Handbook for the Modern Man", de Michael Flocker. "Nunca estale os dedos em um restaurante para chamar o garçom. Faça um delicado aceno", ensina o guia. ]
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