*** plágio e ética ***
“Sei que, às vezes, uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas”
Quase Sem Querer, do Legião Urbana
(Composição: Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Renato Rocha)
Fui convidado pela Luana para discorrer algumas letrinhas aqui sobre ética, mas não especificamente sobre o recente caso de “plágio” (vamos começar deixando-o entre aspas, ok?) que a revista Oriente, Encanto e Magia, de Shalimar, organizadora do Mercado Persa, publicou em artigo de Hayat el Helwa. Hayat assina a autoria do texto “A dança da moda no Egito – Dança Shaabi”, que parece com do artigo “O Popular”, de Roberta Salgueiro, publicado em julho do ano passado. Não estou aqui para julgar ninguém, apenas para deixar o meu ponto de vista.
Bom, para quem não me conhece (“quem esse cara pensa que é, para chegar aqui falando ‘um monte’?”), tenho 42 anos e sou jornalista especializado em automobilismo. Mas já trabalhei em TI, games, moda, economia e cinema. Sobre dança, o máximo que escrevi foi um artigo pessoal, bem curtinho, para a revista Boa Forma, em 1995, se não me engano. Ali eu relatava a minha experiência com o Jazz. Mas tenho de confessar: o texto ficou muito melhor do que o meu desempenho nas barras… Ou seja, como praticante de Jazz, sou um ótimo jornalista. Circulo aqui no blog da Luana por ser fã dela e um apaixonado pela bellydance. É isso! Esse sou eu!
A Ética é uma matéria muito importante para qualquer carreira e matéria do curso de Comunicação Social, principalmente na modalidade Jornalismo. Mas, muito além da necessidade teórica de se exercê-la, ela é importante para qualquer cidadão. Deve, na verdade, ser aprendida em casa, passada de pais para filhos. Ainda assim, é comum vermos gente pisando na ética como se fosse nada, mero lixo.
No segmente que atuo, aconteceu um caso clássico. Uma reportagem INTEIRA foi copiada, da primeira linha até o ponto final, e só foi trocado o nome do autor. O problema é que autor do texto, o original, é um colega bastante espirituoso e possui uma forma muito peculiar e inteligente de escrever suas reportagens. A matéria copiada em questão chegou ao cúmulo de MANTER as suas piadas e ironias intactas! Ou seja, o texto foi copiado ipsis litteris (do latim, “pelas mesmas letras”…).
Em 1994, eu cheguei a se “acusado de plágio”. Foi uma situação bastante patética, diga-se. Foi algo como se eu fosse, no meio de um texto grande, explicar o que é a água e dissesse: “a água é um líquido incolor, insípido e inodoro, formado por duas partículas de Hidrogênio e uma de Oxigênio (H20)”. Ou seja, qualquer pessoa no mundo poderia dar essa descrição “técnica” do que é a água, inclusive da mesma forma e usando as mesmas palavras, concordam? A diferença é que a minha reportagem da época se tratava de explicar o “funcionamento da cápsula que capta o ar para emissão dos sons em um microfone”. Usei uma explicação técnica tirada de uma obra de referência básica e comum (na época, não tinha internet, então usei uma enciclopédia! Estou ficando velho). Jornalista jovem e inexperiente que eu era, errei ao não citar a enciclopédia. Mas acredito que os leitores da revista não teriam gostado de saber. Afinal, leitores de publicações especializadas gostam de ver os jornalistas como especialistas. No “frigir dos ovos”, minha editora entendeu e fez vista grossa. Ela própria não havia percebido a minha “cola”. Quem me “entregou” na época foi um outro jornalista que, enciumado por ter perdido espaço na publicação, queria me derrubar. Já viu esse filme, né?
Uma seara que parece ter muita cópia é no jornalismo esportivo, principalmente naquele que faz cobertura futebol. Isso porque há uma “fórmula” para que os repórteres relatem as partidas de futebol no jornal diário. Agora, pense: se todos os repórteres estão ao mesmo tempo no campo e os seus artigos publicados já estão no jornal de segunda-feira (menos de 24 horas após o apito final), como seria possível um plagiar o outro? Não dá, não é mesmo? Mas é que a história é a mesma, os fatos são os mesmos, os autores dos gols e o tempo de jogo em que eles acontecem são os mesmos, enfim… É a mesma história, contada por diferentes profissionais da imprensa. O que vale então, nesses casos, é a criatividade de cada, a apuração de cada um (entrevistas diferenciadas) e até a capacidade que cada um tem de transformar uma história banal (22 homens correndo atrás de uma bola) em um texto agradável, divertido, bem-escrito e que flui…
Na época que comecei em redações (1992), não havia computadores nelas. Usávamos máquinas de escrever e telefones em que era preciso “discar” – sim, eles eram antigos e tinham aqueles discos com números. O valor que um jornalista tinha no mercado era calculado pelas fontes que ele tinha, pelos números que constavam da sua agenda telefônica. Era preciso ser bem relacionado. Saber quem teria a informação que você precisava e ter acesso a essa pessoa. Naquela época, também gravávamos TUDO; as fotos eram feitas em papel (filme) ou em cromo (película). Era tudo teoricamente mais palpável, mais verdadeiro.
Hoje, na “Google-Era”, as redações foram encolhidas e há centenas de blogs “especializados” em tudo quanto é assunto. Qualquer garoto de 16 anos com um bom conhecimento de computadores, softwares e internet pode ter o seu “veículo de comunicação”! E o pior: e acha que, por isso, tem direito a se credenciar em uma cobertura em um grande evento, pode participar de uma coletiva de imprensa! Não que eu seja contra, não que eu ache que NINGUÉM pode e muito menos acho que eu seja “melhor” que alguém. Mas é preciso saber “separar alhos de bugalhos”; do contrário, surgirão tantos “especialistas” ou “colunistas” de qualquer coisa que, daqui a pouco, perderemos totalmente a referência do que é confiável e verdadeiro e o que não é.
Todos esses causos expostos, acho deveras importante enfatizar a importância da ética e também do valor de uma “obra intelectual”. Tudo o que foi exposto aqui saiu da minha cabeça, da minha experiência de vida profissional. A única coisa que não é de minha autoria é o trecho da música do Legião Urbana que abre esse artigo e que, por não ser meu, coloquei entre aspas e citei os autores. E é isso que qualquer blogueiro do mundo tem de aprender a fazer: citar suas fontes!
Não é porque as pessoas aprendem a ler e escrever em tenra idade, com 5, 6 ou 7 anos de idade, que textos escritos são menos importantes que músicas, pinturas ou esculturas – até porque, se você pensar bem, antes de aprender a ler e escrever você já faz música (no berço e aos berros), pinturas (com guache e até com a comida) e esculturas (de argila, massinha e qualquer outra coisa maleável que a sua mãe deixe à as frente)!!
Ou seja, mesmo concordando com Renato Russo, é preciso que as pessoas entendam que a ordenação de palavras para forma uma frase é única, singular e de propriedade de seu autor; da mesma forma que a ordenação de sete notas musicais, em diferentes ritmos e andamentos, compõe músicas tão diferentes, de estilos completamente opostos e são, por isso mesmo, méritos de seus autores.
Enfim, se você gosta de buscar informações no Google, procure saber mais sobre Ética, Plágio, Direitos Autorais e pense bastante bem antes de sair por aí, “copipasteando” textos de outros autores! ]
Marcadores: dança, ética, futebol, jornalismo, Luana Mello, plágio
1 Comentários:
Coloquei o link do seu blog lá no meu!!!!
Adorei tudo por aqui, e sorry pelo sumiço, vai acostumando que eu sempre deixo o msn ligado e saio por aí!
Rsrsrs
Beijo
Por Luana Mello, Às 11 de fevereiro de 2009 às 20:24
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